A privacidade cedeu espaço à integração de equipes sem barreiras, a luz natural substituiu as lâmpadas acesas durante o dia e os gaveteiros e os armários desapareceram. Pertences pessoais foram parar na parte falsa da cadeira. No edifício de vidro onde está localizado o escritório da Infor, empresa desenvolvedora de software, o excesso de luminosidade aciona automaticamente os blinders que dão uma meia-luz ao ambiente. “Luz natural significa uma imensa economia de energia e ajuda as pessoas a se conectar com o espaço de fora”, diz Lisandro Sciutto, diretor de produtos da Infor.
O cenário da Infor de São Paulo não é diferente dos outros 200 escritórios da companhia no mundo inteiro: limpo, amplo e desobstruído. A copa é o espaço comunitário, moderno, onde as pessoas se encontram, relaxam, almoçam e até fazem pequenas reuniões. “Nosso negócio é improvisar experiências que as pessoas adoram”, diz Sciutto. “Então, surpreendemos também com o design e a funcionalidade do nosso ambiente de trabalho.”
O escritório da LinkedIn, também em São Paulo, além do espaço aberto, chama a atenção pela profusão de cores. Alexandre Ullmann, o diretor de RH, acredita que isso estimula o bom humor, que deixa as pessoas mais felizes e, consequentemente, mais produtivas. A ergonomia está presente em cada detalhe dos objetos que compõem o cenário da empresa. Mesas e cadeiras são ajustáveis para que as pessoas possam trabalhar sentadas ou em pé. Os cantinhos para relaxar e os espaços de descontração são vários e estão ao alcance de todos.
Colaboradores mais felizes
“Acreditamos que pessoas felizes produzem mais”, justifica Ullmann. Geladeiras abastecidas e uma mesa de pingue-pongue estão à disposição dos 110 funcionários da LinkedIn. Sem divisórias nem baias, ninguém se esconde e todos se comunicam. “A abertura completa dos espaços proporcionou uma melhor visão do negócio e todos saíram ganhando.”
Mudança radical sofreu o ambiente corporativo da Serasa Experian há 13 anos. Uma verdadeira intervenção introduziu a acessibilidade em todos os ambientes, que também têm interação total com as áreas verdes. “O mobiliário foi escolhido com a colaboração de todos os funcionários a partir de suas necessidades”, diz Aline Narrete, coordenadora de engenharia da empresa. “Nosso local de trabalho é integrado com as áreas externas, tem iluminação natural e um sistema economizador de água e energia.” As lâmpadas são desligadas automaticamente às 19h. Se algum funcionário continuar trabalhando, ele mesmo terá de acionar a luz, que se desligará novamente e automaticamente dali a uma hora.
Nesses 13 anos as necessidades dos funcionários da Serasa passaram por mudanças – entre as quais o home office. Dos 2.600 funcionários, 330 passaram a trabalhar em casa. Embora esse modelo mais flexível não interfira na produtividade, as lideranças recomendam que pelo menos uma vez por semana esses colaboradores venham trabalhar presencialmente como forma de não se desconectar da matriz. “O espaço físico é para o colaborador se energizar”, acredita Guilherme Cavalieri, diretor de desenvolvimento humano da Serasa. No trabalho presencial, o colaborador chega e pluga seu equipamento onde houver espaço disponível.
Com um olhar estratégico
Como parte de sua estratégia de engajamento e motivação dos colaboradores, a Finnet, empresa brasileira de TI, aposta em técnicas para inovar seu ambiente corporativo e elevar a produtividade. Para tanto, investiu em salas de descompressão, mesas mais amplas, ambientes leves e com toques joviais. Outro detalhe importante nessa renovação foi o uso das cores azul e vermelho que remetem ao logo da empresa e que simbolizam harmonia e energia, respectivamente.
“As mesas foram pensadas para atender às necessidades de todos, com foco na organização e deslocamento, para que os processos possam ser otimizados. Nosso objetivo foi sair do tradicional para tornar o ambiente de trabalho ainda mais harmonioso, onde os funcionários sintam prazer em trabalhar e encontrem reconhecimento e segurança”, disse Sheila Nunes, gerente de RH da Finnet.
O conceito do living office
A funcionalidade e a produtividade podem fazer toda a diferença – justamente a base do living office, conceito desenvolvido pela Herman Miller Móveis a partir de pesquisas no mundo inteiro que revelaram que o espaço de trabalho nos escritórios precisa não apenas atrair as pessoas, mas estimular a criatividade, que tem tudo a ver com a produtividade. O espaço pode ajudar em tudo isso, segundo Carla Barbosa, diretora de marketing para a América Latina da Herman Miller. “Cada empresa tem o seu living office; o objetivo [do conceito] é o funcionário se sentir confortável na estação de trabalho.”
Carla diz que a otimização pode representar um ganho de até 20% do espaço com comodidade. “Não há receita pronta”, explica. “O living office atende à cultura de cada empresa.” E por que tantas companhias resistem? Carla acredita que falta informação sobre o que o mercado oferece ao mundo corporativo. Mas também há ainda a velha cultura da privacidade, da sala fechada para cada diretor, da luz artificial acesa desconhecendo que é possível trabalhar com luz natural, com certificação de sustentabilidade, e que o ambiente corporativo pode, sim, ter uma melhor qualidade de vida.
Para quem passa um terço do dia dentro do escritório, conforto é fundamental, acredita Simone Karpinkas, diretora de RH da Mars. “Funcionários são sempre mais produtivos quando estão envolvidos com a empresa”, diz. “Por isso aqui não há salas fechadas e as mesas são próximas, não há barreiras físicas e todas as pessoas estão acessíveis não importa a hierarquia.”
Com 2.300 associados no Brasil, a Mars fabrica chocolates, molhos, arroz e comida para cachorro. Com onze escritórios e quatro plantas distribuídas pelo país, a companhia mantém a mesma cultura familiar que está na quarta geração nos Estados Unidos. No escritório de Campinas, no interior de São Paulo, além da amplidão do cenário, a Mars tem uma particularidade: os funcionários podem levar seus cachorros para o trabalho. “São todos muito bem-vindos, mas sempre pedimos aos funcionários que avisem com um dia de antecedência que virão com seus pets”, diz Simone.
Do home office para o clube de negócios
Trocar a solidão do home office pela ampliação do networking pode ser mais que uma mudança de hábito. É uma tendência que alia a comodidade dos escritórios compartilhados em endereços nobres com serviço completo de secretária, atendimento telefônico personalizado, sala de reunião, cafezinho, logo da empresa nas TVs de LED e preço camarada. As mesas de trabalho e os profissionais ficam muito próximos, embora não se conheçam ou tenham interesses comuns.
“É como se fosse um clube de negócios”, compara Fernando Bottura, proprietário do GoWork, sistema de open office com oito unidades em São Paulo, onde cerca de 1.200 pessoas desembolsam R$ 800 mensais por contrato. Para facilitar a convivência, Bottura promove cafés da manhã com certa regularidade para que os profissionais se encontrem, troquem informações e até engatem novos negócios. Cada unidade dispõe de um lounge para descanso, para receber ou para pequenas reuniões.
O engenheiro Luciano Machado compartilha um dos escritórios do GoWork. Começou sozinho com uma única mesa e hoje ampliou o negócio para três posições que divide com outros dois profissionais de sua empresa – cada um paga R$ 800. “Achamos mais econômico o compartilhamento em relação ao escritório comercial”, diz Machado. “Já poderíamos ter saído para alugar um espaço maior, mas não estaríamos num endereço nobre e também não contaríamos com a comodidade de todos os serviços incluídos.”
Instalação produtiva lucratividade maior
Conhecer o cliente, o que produz e a forma como trabalham os colaboradores vai fazer toda a diferença no dia a dia, na qualidade de vida, na produtividade e na lucratividade da empresa. O ponto de partida é a ergonomia, ciência que estuda como o corpo físico se relaciona com os objetos. “Aplicar tudo às necessidades do homem e dimensionar os espaços de forma ergonômica são partes importantes do conforto que traz resultados positivos”, diz Nilce Balieiro, diretora de marketing da Voa, empresa especializada em traduzir em espaço a vontade e a necessidade do cliente.
No caso do escritório, Nilce explica que o ambiente é sempre competência do arquiteto, que trata de acústica, iluminação, otimização do espaço, uso de materiais, facilidade de limpeza, higienização, ar-condicionado, disposição de espaço entre os colegas – tudo junto e ao mesmo tempo. “Isso nem sempre é caro”, avisa Nilce. “Ergonomia é conhecimento técnico, mas as pessoas em geral não utilizam porque desconhecem.” Nilce explica que, dentro do escritório, espaço equilibrado é sinônimo de espaço produtivo. Quando a empresa otimiza espaços e instalações, o resultado é mais lucro; quando substitui a iluminação por lâmpadas de LED, constata que houve maior produtividade. “O investimento nem é tão grande assim, mas o lucro com um funcionário feliz é muito maior”, garante Nilce.